Diz um provérbio que falar é prata, calar é ouro. Muita gente nunca deve tê-lo ouvido. Se o conhece, é provável que não concorde. A natureza, que nunca erra, deu-nos dois ouvidos; boca, porém, só uma. Como a advertir que devemos ouvir o dobro do que falamos.
O mundo que construímos é barulhento demais. Cheio de ruído das máquinas que comprovam o quanto é civilizada a vida que levamos. E o ‘som’, que chama música e fere os ouvidos a qualquer hora? Mais parece o bate-estaca de um prédio em construção. O ‘ruído’ visual também é de tirar o chapéu. Chega a doer a babilônica de cartazes, painéis e placas, que agride os olhos.
Com tanto apelo para sairmos de nós mesmos, ninguém se preocupa em concentrar-se, em penetrar no seu mundo interior, em se encontrar com o próprio coração. Não sabe fazer silencio. Pior, condena quem o faz.
Chegamos a nos sentir privados do simples direito ao silencio. Basta permanecer calado alguns minutos que alguém ouve a pergunta flita; “Que você tem? Está passando mal?”. Ou seja, quem é saudável tem que conversar. Não pode criar um espaço de liberdade e deserto interior. Se não está matraqueando feito papagaio em dia de chuva, fatalmente há de estar com alguma doença.
Em tempos que já se foram, às crianças que então nós éramos, o seminário nos transmitiu o valor do silencio. Das 20:00 às 7:30hrs da manhã seguinte, abríamos a boca apenas para escovar os dentes. Era o reinado do grande silencio. Daí se originou o hábito de padres mais velhos se conservarem calados por lapsos de longa duração. Postura que muitos interpretam como sinal de mau humor. É compreensível: não se pode mesmo esperar que alguns entendam aquilo que jamais conseguiram experimentar.
Silencio, hoje, nem mais no interior dos templos e igrejas. Ali se conversa como em qualquer praça ou feira livre. Numa altura que se estende a quilômetros. E vá alguém exigir silencio. A resposta é olhar indignado, quando não palavras de desaforo. Como se estivesse errado quem espera silencio num ambiente de oração e de recolhimento. Pode isso? Por que, afinal, se reuniram lá as maritacas? Para bater papo, como desocupados num boteco?
Quem não consegue construir silencio vai, aos poucos, restringindo sua capacidade de ser gente. A grandeza da pessoa humana vem justamente do seu interior. Aí residem as faculdades que a distinguem do outros seres: razão, liberdade, abertura para o Absoluto, amor, criatividade, capacidade de escolher o bem… Se esse espaço não é visitado, cultivado, desenvolvido, vai, pouco a pouco, se atrofiando. A pessoa torna-se como um daqueles balões coloridos de festa infantil.
Muita gente é incapaz de silencio justamente por medo de encarar o seu vazio interno. Porque fazer silencio é encontrar-se consigo mesmo. Quem nada carrega dentro de si foge do seu mundo interior. Qual a graça de entrar num quarto vazio?
Nosso Deus, no entanto, só se deixa descobrir no silencio. No meio do tumulto, da agitação insana, do ruído de insuportáveis decibéis, é inútil busca-lo. Silencio continua espaço privilegiado para a descoberta dos valores mais sagrados e fundamentais da vida.
Dá para desconfiar de quem faz propaganda de seu fervor religioso, mas se mostra incapaz de recolhimento e de silencio fecundo.
(Pe. Orivado Robles)
Pe. Orivaldo: pior ainda é quando a gente não houve a si próprio e gagueja ou fala tão rápido, que só a gente sabe o "disse".