Vida Consagrada: a beleza da pertença a Deus em suas diversas expressões.
Consagrados testemunham o viver para Deus e para o outro, em diferentes realidades e carismas.
Celebrado desde 1997 e instituído pelo Papa São João Paulo II, o dia da vida consagrada ‘’pretende ajudar a Igreja inteira a valorizar sempre mais o testemunho das pessoas que escolheram seguir a Cristo mais de perto, mediante a prática dos conselhos evangélicos e, ao mesmo tempo, quer ser para as pessoas consagradas uma ocasião propícia para renovar os propósitos e reavivar os sentimentos, que devem inspirar a sua doação ao Senhor.
Como ressaltou o Concílio (cf. Lumen gentium, 44), a vida consagrada «imita mais de perto, e perpetuamente representa na Igreja a forma de vida que Jesus, supremo consagrado e missionário do Pai para o seu Reino, abraçou e propôs aos discípulos que O seguiam» (n. 22).” (Mensagem para a celebração do I Dia da Vida Consagrada)
Em suas múltiplas expressões, a vida consagrada revela a íntima vocação da Igreja, de pertencer somente ao seu Senhor. A diversidade de carismas e formas de vida consagrada revelam a beleza do pertencimento a Deus, cada uma com sua identidade.
O consagrado é alguém que dá testemunho de que o mundo pode ser diferente, como uma antecipação do eterno.
Confira alguns testemunhos e olhares para as diferentes expressões da vida consagrada:
Frei Alysson Cássio – Carmelita Descalço
‘’A consagração é um mistério: nenhuma palavra dá o sentido pleno de uma realidade que supera toda inteligência humana.’’
Religioso há 16 anos, Frei Alysson Cássio, natural de João Monlevade-MG, iniciou seu caminho para a vida consagrada na Província São José – que abrange o sudeste e nordeste do Brasil – dos Frades Carmelitas Descalços, ordem a qual pertence atualmente.
Foi na juventude, com o envolvimento em atividades pastorais que viveu seu despertar vocacional. O religioso tomou conhecimento do Carmelo Descalço, com seu carisma e espiritualidade, através de livros sobre a vida de Santa Teresa de Jesus e Santa Teresinha do Menino Jesus e decidiu seguir este caminho.
Para ele, ‘’a consagração religiosa envolve uma prévia eleição por parte de Deus: é Ele quem chama, quem toma a iniciativa de convidar. É um ato de Deus Pai, que nos consagra em Cristo, com Cristo e para Cristo, na unidade do amor que é o Espírito Santo. Por isso é que se pode dizer que a consagração é uma ação divina.’’
Frei Alysson ressalta ainda que ao assumir a vida consagrada o ser humano procura viver em real configuração com Cristo casto, pobre e obediente, sendo que a consagração importa uma presença ativa e permanente de Deus no consagrado.
Divide também a realidade de sua consagração dentro do Carmelo, que se dá por meio da oração e contemplação das realidades divinas. ‘’Todo o apostolado deve ser fruto da vida de oração.’’
Santa Teresa de Jesus definiu a oração como um trato de amizade com Deus. Frei Alysson afirma que nesse “trato”, o mais importante é a relação amorosa entre os amigos: Deus e o homem. A intimidade é muito mais importante que as palavras, que os ritos, que as técnicas de recolhimento e interiorização.
Irmã Maria Raquel – Instituto HeSed
A irmã Maria Raquel, pertencente ao Instituto HeSed- CE testemunha a beleza e profundidade da vida consagrada dentro de um instituto religioso.
Ela conta que até os seus 18 anos, a consagração a Deus não era sequer uma possibilidade. Tinha planos de estudar, profissionalizar-se, casar e ter filhos; era essa a direção que havia escolhido para sua vida.
“No entanto, encontrar-se com o Amor é algo que não apenas lhe transforma, mas que pode alterar todo o curso de sua vida. Posso dizer que não apenas me encontrei com Alguém, como me apaixonei por este Deus de uma maneira até então nunca experimentada. Os meus sonhos, que pareciam ser tão grandes, tornaram-se insignificantes quando comparados ao plano que Deus traçou para mim. Lancei-me neles com amor!’’.
A partir da primeira experiência com Deus, Irmã Maria Raquel foi percebendo uma sede insaciável dEle, um desejo irresistível de dar sua vida por Ele, pela Igreja, pela salvação das almas, pelos sacerdotes, pelos jovens e pelas famílias.
A religiosa revela que esses sentimentos todos lhe surpreenderam inicialmente; sentiu medo de algo tão inusitado, mas com o passar do tempo deu-se conta de que viver só para si, buscando a sua autossatisfação, já não fazia sentido algum.
“Eu precisava ofertar a minha vida e era esse o chamado contínuo que o Senhor me fazia: ‘Vem e segue-me!’”.
A vida religiosa foi a forma que o Senhor a inspirou, para que a oferta de sua vida se realizasse.
‘’A vida religiosa é sinal para todos do que se dará no Céu. Ela prefigura a união total e absoluta entre o Esposo e a esposa, isto é, entre Deus e a humanidade. E o que é ser esposa de Cristo? Parafraseando Santa Elisabete da Trindade, ‘ser esposa do Cristo é ser fecunda, corredentora, dar à luz às almas e à graça, multiplicar os adotivos do Pai, os resgatados do Cristo, os coerdeiros de sua glória’. Eis a nossa vocação!’’, dividiu ela.
Para a Irmã Maria Raquel, ser religiosa é ter a feliz missão de cantar as misericórdias do Senhor, pois ‘’não existe realidade de pecado, nem de afastamento de Deus, que não possa ser ultrapassada pelo amor misericordioso’’, como testemunha e ensina a fundadora do Instituto HeSed Madre Jane Madeleine.
‘’Nossa vida é um misto de contemplação e ação. Buscamos por meio da contemplação a união com Deus para depois transbordarmos na missão este mesmo amor que deseja fazer arder todos os corações, sobretudo o dos mais distantes, frios e esquecidos.’’
Há 10 anos, a Irmã Maria Raquel vive a alegria da vida consagrada; um “sim’’ fecundo na vida de tantas pessoas, de maneira muito particular na vida de tantos jovens. ‘’Algo que só Deus pode fazer e Ele tem feito de maneira extraordinária!’’, concluiu a religiosa.
Vitor Aragão – Comunidade Católica Shalom
‘’Pela igreja, pelos homens, pelos jovens, me consumirei.’’
Vitor Aragão de Carvalho, natural de Fortaleza-CE, é consagrado na Comunidade Católica Shalom, com promessas definitivas e seminarista, em Roma.
Vindo de uma família muito católica, teve desde cedo contato com a religião, porém isso não o poupou de suas dúvidas e questionamentos sobre a fé.
O encontro com sua vocação começou quando, ao estar em um momento de incertezas e questionamentos, Vitor foi convidado para participar de um acampamento de jovens.
19 de janeiro de 2007 é uma data marcante para o jovem seminarista: dia em que viveu seu encontro pessoal com Jesus Cristo e ali entendeu que não poderia mais ser o mesmo; não poderia viver sem Deus.
“A partir deste encontro eu não mais ouvia falar de Deus, mas ouvia Deus falando diretamente comigo. E um detalhe mudou tudo em minha vida: Ele se tornou o meu melhor amigo.’’
Vitor conta também que neste momento não tinha planos de ser consagrado e nem seminarista. Seu foco era apenas ser amigo de Jesus.
Construiu então uma caminhada de amizade com Deus; participou de grupos de oração, foi catequista e teve contato com alguns carismas. Posteriormente, sentiu-se chamado a dar um passo a mais.
‘’Foi quando perguntei a Deus, assim como São Francisco de Assis perguntou, ‘Senhor o que tu queres que eu faça?’. Jesus respondeu que me queria inteiramente para Ele e me pediu para que anunciasse o amor que eu havia conhecido.’’
Diante desta resposta que recebeu, Vitor começou a buscar o caminho que o levaria a ser todo de Deus. Assim, iniciou sua trajetória na comunidade de vida Shalom, onde vive a pobreza, a castidade e a obediência.
O amor pelos jovens e o ser missionário foram sempre o sentido de todo o caminho de consagração de Vitor.
Com relação ao sacerdócio, o jovem divide que já havia se questionado algumas vezes sobre essa vocação, mas não como uma decisão e correspondência a um convite de Deus. Com o tempo, o chamado ao sacerdócio foi se tornando forte e se transformou em uma inquietação do seu coração.
‘’Tive muito medo de dizer sim ao sacerdócio, mas esse medo foi sendo vencido por Deus. Lembro-me de dias em que disse para Ele que não iria ser padre; bastava eu ser missionário. Mas no outro dia, o Senhor me inquietava novamente e eu tinha uma nova chance de respondê-lo.’’
O seminarista revela ainda que hoje entende que todo medo é pequeno diante da graça de Deus e que Ele nos escolhe mesmo fracos e falhos, do jeito que somos. Compreende que mesmo com suas dificuldades, é chamado a ser missionário, ser a misericórdia de Cristo para os outros.
Como consagrado e futuro sacerdote, Vitor tem uma rotina de oração, estudos e trabalho. Dedica as manhãs para a oração, como um tempo específico para Deus e para fortalecer seu amor esponsal e concilia os demais compromissos ao longo do dia.
‘’O amor esponsal a Deus me faz querer estar em comunidade, viver a vida fraterna e a unidade com cada um dos meus irmãos. E o amor a Deus, unido aos irmãos, resulta na evangelização constante’’, explicou.
Vitor trabalha no Centro Internacional São Lourenco, com a evangelização dos jovens de todas as nações e sente que este é o seu chamado pessoal: a evangelização do jovem. ‘’Sou padre porque Deus me chamou, mas pelos jovens. Escolho dizer ‘sim’ em Deus, pelos jovens.’’
Para ele, o ser consagrado é, de fato, ser separado; separado para Deus.
‘’Durante a minha vida eu tive muitas oportunidades de escolher outros caminhos, mas Deus quis me separar e essa é a minha grande alegria.
Existe uma plenitude de felicidade que só experimentamos quando fazemos a vontade de Deus. Encontro plenitude quando sou separado para Ele e lançado para os outros, podendo ser alimento para um mundo que geme, sofre e espera, com fome, a manifestação dos filhos de Deus, que se fazem eucaristia’’, concluiu Vitor.
Padre José Roberto – Arquidiocese de São Paulo
Padre José Roberto Pereira exerce seu ministério sacerdotal há 12 anos, na Arquidiocese de São Paulo. Atualmente é pároco na Paróquia Nossa Senhora da Consolação, coordenador regional da Pastoral Vocacional e diretor espiritual da Renovação Carismática, na Arquidiocese.
‘’Encontrei-me com a minha vocação numa comunidade da periferia da zona leste de São Paulo. Eu participava de grupo de jovens, namorava, tinha minha vida como qualquer outro jovem da minha idade.
Comecei a conviver com os padres combonianos em minha comunidade de origem, e posteriormente um padre diocesano chegou, o Padre Eduardo Araújo. Algo me encantava na vida deste padre; sua maneira de conduzir a comunidade, sua dinâmica e seu jeito amigo.
Em um determinado momento, comecei a sentir uma inquietação e decidi falar com o Padre Eduardo, mesmo ele já não estando mais na comunidade. Fui ao encontro dele e antes que eu pudesse falar algo, ele já sabia que era sobre vocação.
Fiz um ano e meio de encontros vocacionais e aos 23 anos entrei para o seminário. Depois, em 1999 fui ordenado sacerdote. Trabalhei em outras paróquias e no ano de 2010 assumi a administração da minha paróquia atual, na qual sou pároco há mais de 5 anos.’’, relatou o padre José sobre o encontro com sua vocação.
O sacerdote diz que, para ele, o sentido da vida consagrada é a total entrega a Deus e ao outro. É abrir mão totalmente das suas próprias vontades, desejos e momentos, para viver inteiramente para Deus.
‘’Temos, a cada dia, que aprender a nos sacrificarmos; morrer para si mesmo e viver em Deus, esse é o sentido da consagração.’’
Padre José Roberto ressalta que viver o sacerdócio, no dia a dia, é aprender a apascentar o rebanho a ele confiado e aprender a lidar com as limitações humanas, sejam as dele ou as de seus irmãos.
Também entende que é chamado a uma busca constante de ajudar o outro a crescer, a encontrar-se com Deus.
‘’Busco também viver o meu sacerdócio na fraternidade presbiteral, que é tão necessária e urgente, nos dias de hoje. Nós padres, precisamos viver uns com os outros; a vida consagrada é uma constante convivência em comunidade: com o outro e para o outro.’’
Maria Eduarda Góis – Cidade do Vaticano
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