Na Liturgia deste V Domingo da Páscoa, veremos, na 1a Leitura(At 14, 21b-27), o resultado da viagem missionária dos apóstolos, na qual fundaram e organizaram novas comunidades cristãs.
Na 2ª Leitura (Ap 21, 1-5a) mostra quais seriam os resultados se a Palavra, a ‘Boa Nova’, fosse acolhida pelas pessoas. “Deus enxugará toda lágrima de seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque passou o que havia antes”.
O Evangelho (Jo 13, 31-33ª. 34-35) traz a seguinte questão: Diante de tantos desafios, injustiças e sofrimentos, é possível amar? A Igreja diz sim. Por quê? Porque Deus é fonte do amor verdadeiro, não é uma energia, sentimento ou ideia. Deus é uma pessoa, é o Espírito Santo.
- Como o amor de Deus se manifesta?
1º) Na criação (perfeição, sinais) e pela caridade: a grande realização da caridade é a de tornar-nos semelhantes a Deus, já que ela nos faz capazes de amar os outros, não somente como a nós mesmos, mas do modo como Deus os ama. A caridade nos permite amá-los com o amor do próprio Deus; pois a caridade não é outra coisa senão Deus amando, por meio daqueles que acolheram o dom do seu Amor: “O Espírito Santo, que procede de Deus, quando é outorgado ao homem, inflama-o de amor por Deus e pelo próximo, sendo ele mesmo o Amor” (Santo Agostinho em: A Trindade XV, 17, 31). Para Santo Agostinho, a questão da semelhança do homem com Deus tem dois aspectos. O primeiro diz respeito ao momento da criação, quando Deus faz o homem à sua imagem e semelhança. Neste sentido, todo homem carrega dentro de si esta imagem divina. Um segundo momento é quando o homem, por sua livre vontade, deve esforçar-se para imitar o modo de amar de Deus. Neste último aspecto, tornam-se semelhantes a Deus os que O buscam e O amam verdadeiramente. Este segundo momento é, na verdade, uma restauração do primeiro, visto que, ao assemelhar-se a Deus pela caridade, o homem não está fazendo outra coisa senão restaurando em si a imagem divina deteriorada pelo egoísmo.
Ao tornar-nos semelhantes a Deus, a caridade nos faz também filhos seus: “A caridade é o único sinal que distingue os filhos de Deus dos filhos do demônio” (Santo Agostinho. Comentário da 1ª Epístola de São João V, 7).Assim como entre os homens é a semelhança física o que caracteriza alguém como filho de outrem; do mesmo modo, o sinal distintivo dos verdadeiros filhos de Deus é, exatamente, a vivência da caridade. Embora muitos aleguem ser filhos de Deus, somente os que amam com caridade, de fato, o são. Portanto, se quisermos ser realmente felizes, não devemos perder tempo com amores particulares, egoístas e passageiros; ao contrário, amemos, sem reservas, a todos: parentes, amigos, inimigos e, especialmente, os pobres deste mundo. Seremos felizes nesta vida e por toda eternidade, se todas as nossas ações forem movidas pelo amor, mas não por qualquer amor, e sim por aquele que chamamos de amor fraterno ou de perfeita caridade.
2º) Na encarnação e na cruz: mesmo se já na criação são claros os sinais do amor divino, a revelação total do mistério íntimo de Deus verificou-se com a Encarnação, quando o próprio Deus se fez homem. Em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, conhecemos o amor em todo o seu alcance. A manifestação do amor divino é total e perfeita na Cruz, na qual, como afirma São Paulo, “é assim que Deus demonstra o seu amor para conosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós” (Rm 5, 8). Portanto, cada um de nós pode dizer, sem receio de errar: “Cristo amou-me e entregou-se a Si mesmo por mim” (cf. Ef 5, 2). Redimida pelo seu sangue, vida humana alguma é inútil ou de pouco valor, porque todos somos amados pessoalmente por Ele, com um amor apaixonado e fiel, um amor sem limites. A Cruz, loucura para o mundo, escândalo para muitos crentes, é, ao contrário, “sabedoria de Deus” para todos os que se deixam tocar profundamente no seu ser. Cristo é o Cordeiro de Deus que assume os pecados do mundo e desenraiza o ódio do coração do homem. Eis a sua verdadeira ‘revolução’: o amor.
3º) No amor ao próximo, a plenitude e as expressões do amor-caridade: no Antigo Testamento, Deus dissera: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19, 18), mas a novidade de Cristo consiste no fato de que amar como Ele nos amou significa amar a todos, sem distinções, também os inimigos, “até ao fim” (cf. Jo 13, 1).
A caridade é a perfeição do amor, pela qual o homem se entrega totalmente a Deus, mas Deus nada pede para si mesmo, já que não há nada que possamos oferecer que O favoreça. “Não penses que dás algo a Deus. Deus não precisa de servos, mas são os servos que precisam de Deus” (Santo Agostinho. Comentário da 1ª Epístola de São João, VIII, 14).Deus é Sumo Bem que de nenhum bem precisa e tudo o que Ele exige do homem é em vista de seu bem; ao contrário, tudo o que o homem oferece a Deus se reverte em benefício próprio, pois “Deus é aquele que quer ser amado não para obter para si alguma vantagem, mas para conceder aos que o amam uma recompensa eterna” (Santo Agostinho. A doutrina cristã I, 29,30). Quanto a nós, já nos amamos naturalmente, resta-nos, pois, que amemos nossos irmãos por amor a Deus, e nisso está a perfeição da caridade: “Todo homem deve ser amado por causa de Deus” (Ibid., I, 27,28). Portanto, o amor é perfeito quando chega ao nível da caridade fraterna:
Onde devemos manifestar o amor de Deus?
1º) No compromisso com a Igreja que é a nossa família espiritual. “Nisso é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35).
2º) No compromisso com a família e nos diversos ministérios. Somos chamados a expressar o amor e a crescer nele, o verdadeiro amor não procura em primeiro lugar a própria satisfação nem o seu próprio bem-estar.
3º) No compromisso com a sociedade, a justiça, a cidadania e o bem comum. Devemos desenvolver nossas capacidades, não só para nos tornarmos mais ‘competitivos’ e ‘produtivos’, mas para sermos ‘testemunhas da caridade’. O horizonte do amor é verdadeiramente infinito: é o mundo inteiro!
Enfim, o amor é a única força capaz de mudar o coração do homem e a humanidade inteira, tornando proveitosas as relações entre homens e mulheres, entre ricos e pobres, entre culturas e civilizações. A cada um de nós é concedido alcançar este grau de amor, mas unicamente se recorrermos ao indispensável apoio da Graça divina. Só a ajuda do Senhor nos permite viver, de fato, livres e felizes. Quando a raiz das ações é a caridade, não poderá surgir o mal (“Quando esvaziares o coração do amor terreno, haurirás o amor divino. E nele logo começa a habitar a caridade da qual nenhum mal pode proceder”(Santo Agostinho. Comentário da 1ª Epístola de São João, II, 8), e sim somente o bem.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
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