Anúncio veiculado em rádio local, dia desses, desafiava o ouvinte a guardar dez minutos de silêncio, logo que acordasse, antes de qualquer outra coisa que lhe ocupasse a mente. Emendava com a importância da meditação, vista como prática de crescimento interior.

Fiquei surpreso ao ouvir a mensagem. Imaginar dez minutos de silêncio uma grande dificuldade para adultos! Realmente em nosso mundo atual já não nos esforçamos para nada, não é mesmo? No antigo seminário menor, em que entrávamos com doze anos, a gente saltava da cama às 5h30m e mantinha silêncio absoluto por duas horas inteiras, até o momento de tomar café. Nesse espaço de tempo praticava higiene pessoal, ginástica, oração da manhã, meditação e missa. Foi nosso roteiro diário desde crianças até nos tornamos padres, catorze ou quinze anos depois. E ninguém se achava herói por isso. Nem via a prática como exigência exagerada ou coisa da Idade Média.

Outroponto que andam entendendo diferente é a meditação. Dão esse nome ao muito valorizado empenho oriental de criar um vazio interior, em que a mente não se ocupe com nenhum pensamento, memória ou emoção. Assim a pessoa vai descobrindo o seu verdadeiro eu e se torna capaz de perfeito autodomínio.

Nós praticamos (por meia hora ao menos) a meditação cristã. Um objeto ou assunto nos é proposto e sobre ele debruçamos a mente, analisando-o à luz do Evangelho. Buscamos tirar novos modelos de ser, de pensar e de agir, tanto na vida pessoal quanto comunitária.

Para quem iniciou sua formação cristã nos idos de 1950 é estranho como hoje muitos vivem. Parece que tudo é impossível. A começar pelo silêncio. Silêncio hoje virou doença. No Brasil há mais celulares do que pessoas. E gente conversando ao celular até dentro da igreja. Como a coisa mais natural do mundo.